Aprendendo com o que dói...

24/03/2012 11:53

“A arte de perder não é nenhum mistério;

Tantas coisas contêm em si o acidente

De perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,

A chave perdida, a hora gasta bestamente.

A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:

Lugares, nomes, a escala subseqüente

Da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero

Lembrar a perda de três casas excelentes.

A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império

Que era meu, dois rios, e mais um continente.

Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada. Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério’’. Elisabeth Bishop

           

Esse poema veio de encontro a mim há muitos anos atrás. Quando eu o lia, não tinha noção da sua dimensão, do seu peso quanto verdadeiro. Para mim não passava de um texto bem estruturado, gramaticamente falando, e poetizado. Agora, depois de uns nove anos, revirando agendas antigas e a minha velha caixa de cartas que fiz na adolescência, encontrei-o novamente. Ao relê-lo depois desse longo tempo, percebi que ele chegou a mim de outra forma, totalmente diferente da anterior. Fiquei me indagando, durante certo tempo, o motivo dessa diferença e cheguei à conclusão que as coisas sempre chegarão a mim no tempo certo para me mostrar algo.

            No poema “One Art”, Elisabeth Bishop fala de forma suave e leve sobre suas perdas durante a sua trajetória quanto artista e ser humano. Desde muito nova, as perdas foram constantes na sua vida. E assim se sucedeu durante toda a sua vida.

            Toda a carga emocional e vivente da autora fez com que o potencial de sua obra tivesse uma densidade concisa e verdadeira, conseguindo tocar a quem ler profundamente, pois fala de verdades com um gosto de saudade e doce. Mas apesar da saudade, sempre olha pra frente e nos mostra que sempre haverá algo bom na “arte de perder”. E ao estudar a fundo sobre a vida de Elisabeth, passei a ver várias semelhanças entre a sua trajetória e a minha (quanto pessoa e artista), que foi o que me levou a dividir o texto com outras pessoas que não a conheciam.

            Dos meus quatorze aos meus vinte e três anos, fui preenchido por uma carga de coisas, sentimentos, vivências. Valores e filosofias foram construídos e desfeitos como castelos de areia banhados pela onda do mar. Talvez tudo o que passou por mim durante esse tempo fez de mim um outro tipo de receptor das coisas alheias ao meu eu, mas que ao mesmo tempo me complementam com um ser que pensa e transborda de dúvidas e certezas na busca de que eu fui, de quem sou e de quem serei. E a única certeza que tenho é que eu sou um objeto físico pensante em metamorfose constante.

 

 

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